O projeto de digitalização do Itaú avança sobre os empregos dos bancários. Nas últimas semanas, só no Espírito Santo nove bancários foram demitidos, todos responsáveis pelo atendimento de clientes Uniclass – segmento que está tendo suas contas migradas para “agências” totalmente digitais, cuja central de atendimento fica sediada em São Paulo.
Em 2015, o executivo do banco Marco Bonomi, diretor responsável pela área de Varejo, declarou em reunião com acionistas que a instituição pretende cortar nos próximos dez anos 50% de suas atuais quatro mil agências físicas – que o banco chama de ‘agência tijolo’. Para os próximos três anos, a estratégia é cortar 15% do total de agências do País. A política pode levar à demissão de até 30 mil funcionários.
O projeto de digitalização do atendimento do Itaú foi iniciado em 2013, com um piloto envolvendo clientes do Itaú Personnalité, para os quais o banco exige um saldo mínimo de investimentos de R$ 100 mil. A partir de 2015 o banco expandiu a proposta de agência digital ao Uniclass, com meta de atender virtualmente 1,5 milhão de clientes até o fim de 2016.
Reestruturação produtiva
O novo modelo de agência vem se consolidando como base do processo de reestruturação produtiva dos bancos, que associa o investimento em tecnologias da informação (TI) ao corte de empregados. A estratégia fica evidente no aumento de demissões no Itaú. Nos últimos 12 meses o Itaú cortou 2.815 empregos e fechou 161 agências em todo o Brasil, mesmo com lucro líquido de R$ 23.832 bi em 2015, alta de 15,6% com relação ao ano anterior.
Se o desemprego é um problema para quem sai da agência, é também para os bancários que ficam. As metas de produtividade e venda, que já eram difíceis de alcançar, ficam ainda mais distantes depois de ter toda a carteira de clientes migrada para a agência digital. A cobrança aumenta e, junto com ela, o adoecimento da categoria. A baixa produtividade dos empregados acaba sendo usada posterioremente como justificativa para a demissão.
“Os clientes são redirecionados, mas as metas individuais continuam, e ficam ainda mais distantes. Como são clientes de alto padrão, é impossível repor toda a carteira de clientes na velocidade que o banco impõe. Além disso, os clientes que têm as contas transferidas nem sempre se limitam ao atendimento digital. Eventualmente continuam utilizando a agência, agora com quadro reduzido de empregados, que terão que assumir mais uma demanda”, alerta Idelmar Casagrande, diretor do Sindibancários/ES.
Bancários lutam por contratações
A luta por contratações é uma das principais reivindicações da Campanha Nacional 2016. Para garantir condições de trabalho, não basta preservar o emprego, é preciso ampliar o número de empregados, como avalia Casagrande. “Há um déficit de trabalhadores nas agências que sobrecarrega os empregados na ativa e precariza o atendimento à população. Para manter os lucros, o Itaú utiliza a política do “chicote”, o assédio moral é constante, faz parte do modo de gestão a partir da política de metas. Só mudaremos isso com mais empregados e outro modelo de gestão, que respeite os trabalhadores”.
O diretor ressalta a importância da participação de todos os bancários na Campanha Salarial para conseguir fazer frente às medidas do banco. “Nosso desafio é grande e a luta é unificada, de toda a categoria, por isso precisamos de cada bancário do Itaú envolvido. É nosso emprego, nossos direitos e condições de vida que estão em jogo, e precisamos ter consciência de que só a luta nos garante”, conclui Idelmar, fazendo menção ao slogan da Campanha Nacional dos Bancários 2016.