Em clima de indignação e tristeza, bancários aprovam proposta da Caixa

Na votação realizada após a assembleia, 74% dos bancários aprovaram com críticas a proposta da Caixa; 21% rejeitaram; e 5% se abstiveram. A votação foi encerrada às 22h00 desta terça, 1

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O Sindicato dos Bancários/ES convocou bancários e bancárias da Caixa para avaliar em assembleia nesta terça-feira, 1, a proposta do banco, recusada por 72% dos empregados na assembleia realizada nessa segunda, 31. Na votação realizada imediatamente após a assembleia virtual, dos 378 bancários e bancárias da Caixa que votaram, 279 (74%) aprovaram com críticas a proposta do banco; 81 (21%) rejeitaram; e 18 (5%) se abstiveram. A votação se encerrou às 22h00 desta terça-feira, 1.

Na abertura da assembleia, a diretora do Sindicato, Lizandre Borges, informou que a diretoria do Sindicato se reuniu nesta terça e formou consenso que aceitaria com críticas a proposta da Caixa. “Após avaliar o cenário de votação Brasil afora, entendemos que teríamos de aceitar o acordo com críticas porque não temos como propor e tampouco empreender uma greve isoladamente”. Lizandre admitiu que na assembleia de ontem havia uma expectativa de que os grandes centros recusassem a proposta. A votação a favor da proposta em São Paulo foi apertada (52%), mas na maioria dos estados girou em torno de 70% a 80% pela aprovação. As exceções foram os estados do Espírito Santo e Acre e a cidade de Moji das Cruzes, no interior de São Paulo.

Ela informou ainda que o Sindicato solicitou novamente da Contraf a minuta com a redação final da proposta, que já havia sido cobrada pelos bancários na assembleia dessa segunda. “Queríamos ter o acordo para discutir em assembleia, mas a Contraf alegou que a Caixa ainda não concluiu a redação”. Lizandre lembrou ainda que é a segunda vez em dois anos que isso acontece. “Na campanha de 2018, o acordo final chegou pra nós quase dois meses depois no encerramento das negociações”.

A diretora do Sindicato, Rita Lima, abriu sua fala contando um pouco de sua experiência em outras campanhas. “Sou aposentada da Caixa, onde comecei a trabalhar em 1977. Como acabou de comentar uma colega também veterana, nunca vi nada parecido. Nos últimos 20 anos – e vou descontar o período de Fernando Henrique Cardoso que foi só reajuste zero -, este acordo que estão nos empurrando goela abaixo é seguramente o pior das últimas duas décadas”, desabafou a diretora.

“Nosso lema, quando entramos numa negociação, é nenhum direito a menos. Esse é sempre nosso ponto de partida. Estou muito orgulhosa de fazer parte de uma base que demonstrou coragem para recusar uma proposta que ataca nossos direitos. Essa base mostrou que tem disposição para a luta. Passamos o recado ao governo Bolsonaro e ao presidente da Caixa Pedro Guimarães que não aceitaremos retrocessos. Vamos continuar na luta e sabemos que podemos contar com o apoio de vocês. Isso é muito gratificante”, completou Rita Lima.

As falas e as postagens escritas durante a assembleia seguiram essa mesma linha da diretora do Sindicato: misturavam tristeza e indignação. A seguir, algumas falas dos diretores do Sindicato e dos bancários e das bancárias da Caixa durante a assembleia desta terça-feira, 1).

“Chegamos ao final de mais uma campanha com o saldo negativo. O acordo é perverso porque ataca justamente os que ganham menos” (Giovanni Riccio – diretor do Sindicato).

“Foi um desfecho melancólico. É difícil fazer o papel de animador de velório nessas horas. (…) Essa proposta acaba com o Saúde Caixa. Atacar nosso plano de saúde em meio à pandemia foi uma covardia. (…) A Contraf jogou a toalha apostando no medo da categoria” (Renata Garcia – diretora do Sindicato).

“Tenho 14 anos de Caixa e estou muito indignado”.

“Desde 2016, ou seja, antes da pandemia e deste governo ultraliberal, estamos sem fazer greve. Cada um de nós precisa participar e se envolver mais na luta. Temos que lutar em todas as frentes”.

“Ficou uma lacuna no Saúde Caixa. Esse acordo só garante a proporção 30/70 até dezembro de 2021. E depois, como é que ficamos? Vamos ficar vulneráveis de janeiro a agosto de 2022. Talvez lá na frente a proporção suba para 50/50 e torne o plano inviável”.

“Estou muito triste mesmo. Agora vão vir com aquela frase: ‘aceita que dói menos’. Vai continuar doendo por muito tempo. Mexeram no Saúde Caixa em plena pandemia. (…) Quero parabenizar os colegas que não aceitaram essa proposta”.

“Estamos tendo que engolir goela adentro uma proposta que nos retira direitos. (…) Contraf passou a apostar mais na mesa de negociações do que na capacidade de mobilização da categoria”.

Mesa de negociações

Foram feitas também críticas à maneira como parte do Comando Nacional dos Bancários conduziu as negociações com os bancos. Carlos Pereira de Araújo (Carlão), membro do Comando, depois de parabenizar a resistência dos bancários da Caixa, destacou que a posição do Espírito Santo teve um efeito pedagógico para o conjunto da categoria. “Marcamos uma posição importante: mostramos que o acordo é muito ruim para a categoria”.

O dirigente, que teve posição divergente à maioria do Comando por ter defendido a rejeição da proposta da Fenaban, disse que apostava no endurecimento das negociações com os bancos. Ele defendeu um indicativo de greve para empurrar a pressão para o lado dos bancos. Carlão afirmou que há uma concepção hoje em parte do Comando em achar que a negociação na mesa substitui a mobilização da categoria. “Na minha opinião, esse entendimento é equivocado. Só a categoria organizada e mobilizada tem força para fazer o enfrentamento com os bancos”, assinalou Carlão.

Para Jonas Freire, coordenador do Sindicato, a derrota deve ser interpretada como vitória. Ele afirmou que a conjuntura adversa, marcada pela crise sanitária e um governo com orientação ultraliberal disposto a retirar direitos da classe trabalhadora, tornou as negociações deste ano ainda mais difíceis. “Quero elogiar a disposição de luta dos companheiros e companheiras da Caixa pela coragem de recusar a proposta mesmo ante a uma conjuntura tão adversa”.

Rita Lima acrescentou que a luta é feita de avanços e retrocessos. “Às vezes a gente é obrigado a recuar para se organizar melhor e voltar mais forte para a próxima batalha. O importante é estarmos unidos e prontos para as próximas lutas. Temos que continuar defendendo a Caixa 100% pública. Outro grande desafio é manter o Saúde Caixa para todos. Vamos em frente. A luta continua”.

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